“Na Apormor lutamos por todos, não apenas por duas ou três raças, nem só pela pecuária, mas também pelo território, pelos solos e pelas culturas.” Joaquim Capoulas, presidente da Apormor, conversou com a Ruminantes, durante a Expomor, acerca dos desígnios da associação que lidera.
Como tem crescido a Apormor e quais são os grandes desafios que se avizinham?
A Apormor traçou um caminho, desde que assumi o cargo de presidente da Associação, há praticamente 10 anos, evidenciando que Montemor é aquilo que sempre foi: a capital nacional da pecuária extensiva. Montemor é o 7º concelho em dimensão no país, mas é o maior em área agrícola útil) e tem um dos maiores efetivos pecuários do país.
Em 2019 houve uma alteração estatutária, aprovada por unanimidade, que fez com que a Apormor deixasse de ser apenas uma associação de produtores de bovinos, ovinos e caprinos, o que era bastante limitante para a influência que a Associação desejava ter no mundo rural do concelho, e mesmo a nível nacional. Com esta alteração, passámos a Associação de Produtores do Mundo Rural da Região de Montemor-O-Novo que inclui não só os produtores pecuários, mas também os produtores de outras atividades económicas do concelho, como a cultura, o turismo rural, a viticultura, a caça, e a apicultura. Criámos ainda uma categoria de sócios, os “sócios amigos da Apormor”, que são aqueles que, não tendo atividade no mundo rural, se revêem na visão da Apormor quanto ao ordenamento e conservação do território, e na forma de o gerir. Tentamos que ninguém legisle sobre o território sem primeiro compreender o seu percurso histórico. No passado, a terra não se vendia, transmitia-se de geração em geração, com uma prática cultural e ética que entendia a terra não como propriedade de uma só geração, mas de todas, as que cá estiveram e as que hão de vir. Não era admissível transformar radicalmente a utilização do território nos seus diversos sistemas, onde a conservação do solo e a construção do montado levam séculos. Antigamente, não se falava de matéria orgânica, falava-se de “terra velha” e “terra nova”, sendo a terra velha aquela que não era mobilizada, melhor para a pastorícia.
O que poderemos vir a encontrar de novo na Apormor, daqui a cinco anos?
Nunca podemos dizer com certeza que faremos isto ou aquilo, mas temos uma ideia: queremos que a Apormor seja, cada vez mais, um ponto de encontro para todos os utilizadores, legisladores e pensadores preocupados com o mundo rural. Porque só refletindo e dialogando, procurando a razão, conseguimos alcançar consensos. Não podemos esquecer que não há conservação do território sem economia, nem conservação ambiental sem pessoas no terreno. E, por vezes, quem legisla não domina todos os aspetos. A Apormor quer desempenhar esse papel de mediação.
Por outro lado, sabemos que não podemos limitar-nos apenas a este espaço para concretizar tudo o que planeamos. Temos de ir para o campo, e por isso adquirimos uma pequena propriedade. Gradualmente, vamos criando infraestruturas, melhorando os solos e as pastagens, com base na ciência e na experiência. Esta propriedade funcionará como uma estação experimental, onde se realizarão ensaios, ouvindo tanto a ciência como a experiência de muitos agricultores.
A Expomor tem vindo a afirmar-se como a mostra do extensivo e profissional. Existem ideias de fazê-la crescer?
A única certeza é o caminho, o resto não posso garantir. Por exemplo, ontem, a Associação do Limousine surpreendeu-me ao convidar a Apormor para ser sócio honorário da Associação dos Criadores da Raça Limousine, como reconhecimento pelo esforço que fazemos pela bovinicultura. Esta associação, que tem sede no concelho de Odemira e realiza os seus concursos na Faceco, em S. Teotónio, teve este ano, na Expomor, o ano da sua raça. Convidam-nos para vários eventos, o que nos diz muito, pois significa que aqui na Apormor lutamos por todos, não apenas por duas ou três raças, nem só pela pecuária, mas também pelo território, pelos solos e pelas culturas. É isto que nos faz crescer e nos torna um ponto de encontro.
Acerca da APORMOR
A APORMOR- Associação de Produtores do Mundo Rural da Região de Montemor-o-Novo, fundada em 11 de julho de 1990, conta com cerca de 320 associados, que detêm perto de 60.000 hectares de área de pastoreio. Representa os interesses coletivos dos produtores de pecuária extensiva, atua na preservação do ecossistema agro-silvo-pastoril do montado e promove os valores do mundo rural.
É uma importante entidade dinamizadora da economia do concelho de Montemor-o-Novo. Promove nas suas instalações, no Parque de Exposições, um Leilão de Bovinos (semanal, realizado à terça-feira) e um Leilão de Ovinos/Caprinos (na 3ª quinta-feira de cada mês), onde são transacionados por ano cerca 32.500 bovinos e 24.500 ovinos/caprinos.