Por Ruminantes | Fotos FG
“Com a transição da ordenha convencional para o robot, não foi só o estábulo que mudou”, diz Nuno Silva, um jovem produtor que inaugurou recentemente uma vacaria com sistema de ordenha robotizada, em Outeiro Maior, concelho de Vila do Conde. Foi também, como disse à Ruminantes, o acesso à ordenha, que é muito mais tranquilo, e a própria ordenha, que afetaram positivamente o bem-estar animal e a eficiência produtiva das vacas.
Nuno Silva é um jovem agricultor que nasceu e cresceu no negócio familiar da produção de leite. Depois de ter concluído a sua formação profissional na Escola Agrícola de Rates, candidatou-se a um projeto agropecuário para a construção de uma vacaria, cuja aprovação implicou a aquisição de um robot de ordenha. A nova exploração, totalmente concebida a partir do zero, num novo local. A sua capacidade produtiva está atualmente restrita a um robot de ordenha, mas as instalações têm capacidade para 70 vacas em ordenha e a propriedade tem dimensão para uma eventual expansão no futuro. No início de 2024, passaram todos os animais para as novas instalações e começaram a ordenhar com o robot. Atualmente, Nuno divide as tarefas da vacaria com a sua mãe, e com o seu irmão, Luís.
Nos 8 hectares de terreno da exploração, cultiva-se principalmente milho e erva para silagem essenciais para a alimentação do rebanho, recorrendo a prestadores de serviços e a parcerias com vizinhos, também produtores de leite. Toda a produção de leite é vendida à empresa Bel Fromageries.
Na vacaria, o dia começa por volta das 7h30. A primeira coisa que Nuno faz é verificar no telemóvel as vacas que estão próximas de completar 12 horas sem serem ordenhadas, para em seguida direcioná-las para o parque de espera, onde serão ordenhadas pelo robot. Em seguida, cuida da alimentação do rebanho, preparando e distribuindo o unifeed. O restante do dia é dedicado ao cuidado dos vitelos e das novilhas, atividades que demoram cerca de duas horas diárias. À tarde, a rotina repete-se com a alimentação dos vitelos. No verão, devido às temperaturas mais elevadas, distribuem um segundo unifeed ao final da tarde.
A alimentação das vacas consiste no unifeed com silagem de milho (29 kg/vaca/dia), palha e mistura (6 kg). No robot são fornecidos 5,8 kg ração granulada/vaca/dia.
Que sistema de ordenha tinham antes?
Uma sala de ordenha em espinha, com 8 pontos, com cerca de 30 anos. Éramos duas pessoas e demorávamos 2 horas para ordenhar as 50 vacas. No total, despendíamos quatro horas por dia nesta tarefa.
O que pensa do robot de ordenha como alternativa?
Os robots têm evoluído muito e tornaram-se muito fiáveis. São uma alternativa muito interessante para quem tem um negócio familiar, pequeno, e não quer, ou não consegue, contratar mão-de-obra.
Como relaciona o robot com o bem-estar animal?
Nós investimos no robot e num novo estábulo, não posso relacionar só com o robot, mas os animais estão muito mais tranquilos. Não têm o stress da espera para a ordenha.
Também investiram numa porta inteligente. Porquê?
(Carlos Manuel): Para que as vacas que entraram no parque espera pudessem sair dele, sem terem que passar pelo robot. A porta liberta o parque mais rapidamente e permite maior rentabilidade do robot, porque evita que vacas sem permissão de ordenha, que entrem no parque, tenham que passar pelo robot. Mas a porta pode ter mais funções que não estamos a utilizar aqui, como, por exemplo, a separação de animais. Nesta exploração, a porta está colocada à saída do parque de espera, porque temos cama quente, mas poderia estar no início, nesse caso, faria a separação direta dos animais: para o robot, se tivessem permissão de ordenha, ou para a manjedoura, se não tivessem permissão. A porta permite uma melhor qualidade de vida para o produtor, guiando o animal.
Que tipo de tráfego utilizam?
Utilizamos o sistema de tráfego guiado — no qual a vaca passa pelo parque de espera para ter acesso à manjedoura. As vacas estão em cama quente (foto 2) e, para beberem água, ou comerem, têm que se deslocar à manjedoura, tendo obrigatoriamente que passar pelo parque de espera. Quando entram neste parque, ou têm permissão de ordenha e passam pelo robot, ou não têm e podem passar pela porta inteligente (foto 1) diretamente para a manjedoura, sem passar pelo robot. No parque de espera também existem bebedouros.
Este tipo de tráfego diminui o potencial de produção de leite do robot?
(Carlos Manuel): Com este tipo de tráfego não temos tantos animais atrasados como no sistema livre, porque as vacas são guiadas a passar pelo robot. A grande vantagem deste sistema é o produtor não ter que tocar tantas vacas. Não tem influência na produção de leite, nem para mais, nem para menos. Aliás, de todos os produtores que têm robot com tráfego guiado, nenhum mostrou interesse em passar para o tráfego livre.
(Nuno): Neste momento só toco 3 vacas, sempre as mesmas, animais com mais idade e em fim de lactação.
Como fizeram a transição para o robot?
Foi a transição possível, pois não tínhamos acesso à ordenha antiga. De manhã, as vacas foram ordenhadas na exploração antiga, e depois passaram para o estábulo novo, no início da tarde estávamos a colocar vacas no robot. Ao fim de 3 a 4 semanas, os animais estavam completamente adaptados. Nos primeiros 3 dias, houve animais cujo leite não descia, entravam no robot, mas não davam leite. Teve que se insistir até criarem a rotina. Ao fim de duas semanas estavam a voltar à produção que tinham antes. Ou seja, tinham 30 litros/vaca/dia, baixaram para os 28 litros e ao fim de 4 semanas estavam perto dos 33 litros.
Se as suas vacas falassem o que lhe diriam hoje?
“Obrigado, valeu apena o sacrifício da transição”. Não nos podemos esquecer que o robot faz uma ordenha muito mais suave para a vaca, tem pulsação inteligente, adapta o vácuo e a pulsação ao fluxo de leite. Ou seja, não foi só o estábulo que mudou, foi o acesso à ordenha, que é muito mais tranquilo, e a própria ordenha.
Que objetivo tem para o robot?
Chegar a uma produção de leite/vaca de cerca de 40 kg/vaca/dia e a 2.400 kg de leite vendido/robot/dia. Se possível, com mais de 13 kg de leite por ordenha.