Por Ruminantes | Fotos NM
Quando, no final de 2022, a empresa Calf, Lda. trocou a velha sala de ordenha por um robot, a continuidade do negócio ganhou novo fôlego. Essa decisão estratégica marcou um ponto crucial na gestão da vacaria, trouxe maior eficiência aos processos e permitiu um ganho substancial de tempo. A Ruminantes foi a Mansores, concelho de Arouca, entrevistar Miguel Fernandes, responsável pela gestão da vacaria. O ditado popular diz que “Filho de peixe sabe nadar”, e a trajetória de Miguel Fernandes na profissionalização do negócio de produção de leite é um exemplo desse princípio. Originário de uma família com tradição na criação de vacas leiteiras, o legado foi passado de pai para filho. Desde tenra idade, Miguel ajudou o seu pai, Luis Fernandes, nas tarefas da vacaria, absorvendo os conhecimentos e a paixão que permeavam a atividade familiar.
Ao longo dos anos, a exploração evoluiu de forma gradual e orgânica e, 2011, um passo crucial foi dado com a criação da CALF, Lda., uma empresa que engloba Luís Fernandes e seus filhos.
A exploração, situada em Mansores, no concelho de Arouca, ocupa uma área de 8 hectares, onde se cultiva milho e erva em sequeiro.
A operação conta atualmente com 56 vacas em ordenha, mantendo uma dinâmica familiar em que Miguel e seus pais desempenham papéis essenciais. A alimentação das vacas é diversificada, baseada em silagem de milho própria e adquirida, erva, palha e concentrado. As fêmeas nascidas na exploração são recriadas, enquanto os machos são prontamente vendidos com 10 a 15 dias de vida.
A continuidade do negócio ganhou novo fôlego em outubro de 2022, quando decidiram investir num robot de ordenha. Essa decisão estratégica marcou um ponto crucial na evolução do negócio, permitindo uma gestão mais eficiente e modernizada. O robot de ordenha proporciona a liberdade de trabalhar com uma equipa reduzida, redefinindo a dinâmica em comparação com as explorações com ordenha convencional. Miguel destaca que a introdução dessa tecnologia proporciona “mais liberdade” e, no inverno, quando os trabalhos de campo diminuem, “uma só pessoa consegue gerir a vacaria de forma autónoma e tranquila”.
Essa abordagem inovadora reflete a visão de Miguel em modernizar e otimizar o negócio, mantendo a tradição e a qualidade que caracterizam a produção de leite da família Fernandes. O investimento no robot de ordenha é um passo significativo rumo à sustentabilidade e eficiência operacional, preparando o terreno para um futuro próspero e sustentável na produção leiteira.
Como é um dia normal de trabalho?
Começo a trabalhar às 7h-7h30. A primeira coisa que faço é vir ao escritório, ver no computador os diferentes gráficos, como o rendimento do dia anterior, as produções totais e por animal nas últimas 24 horas, ver se alguma vaca está no cio, ou se alguma produziu menos leite. Depois, passamos para a vacaria, para preparar e distribuir o unifeed, limpar o estábulo e “tocar” as vacas que por alguma razão não foram ao robot. Temos também a parte da alimentação dos vitelos e da recria. Às 9h30, terminam as obrigações diárias com os animais. À tarde, voltamos a limpar as camas e alimentamos os vitelos. Damos sempre, no mínimo, duas voltas à vacaria.
Em outubro de 2022, renovaram o estábulo e compraram um robot. Que sistema de ordenha tinham antes?
Uma sala de ordenha em espinha, de 8 unidades, com mais de 20 anos. Levávamos 4 horas por dia a ordenhar, duas de manhã e duas à tarde.
Quais são os objetivos produtivos para o robot?
Acima de 37 kg/vaca/dia, 2.300 kg de leite vendido/robot/dia e, no mínimo, 3 ordenhas/vaca/dia. Ainda não atingimos o número de litros por robot que desejamos porque não temos o número de vacas ideal, temos 57 e desejamos ter 62.
Porque decidiram por um robot? E porquê o GEA R9500?
Tínhamos que nos modernizar, e o robot permitia continuar o negócio dentro da família porque não exigia a contratação de mão-de-obra externa. Por outro lado, o robot ocupa menos espaço do que uma sala convencional com parque de espera. Ou seja, permitiu-nos ter um estábulo para mais vacas. Optámos por este modelo pelo funcionamento da máquina, por ser mais compacto, por ter a possibilidade de separar o leite ordenhado por teto, e de trabalhar em modo manual. Por outro lado, a Lacticoop já era o nosso fornecedor e assim se manteve.
Que obras fizeram no estábulo?
Nivelámos o pavimento e construímos um novo reservatório de chorume. Também substituímos as camas de calções com borracha, por camas de serrim, e os cubículos de ferro por cubículos de pvc flexível. Foi um investimento grande mas que era necessário.
Como fizeram a transição para o robot?
Durante 15 dias, habituámos as vacas a passar pelo robot somente para comer ração. Só depois começaram a ser também ordenhadas no robot. Demorou cerca de um mês até estarem independentes. Nos primeiros oito dias foi necessário ‘tocar’ vacas. Nesse período, tivemos que trabalhar mais umas horas, saíamos mais tarde da vacaria e chegávamos mais cedo.
O que mudou no vosso modo de trabalho?
Muita coisa. Antes, a primeira coisa que fazíamos era a ordenha; hoje, é consultar os dados produtivos e reprodutivos fornecidos pelo robot, ou os alarmes que possam ter chegado no telemóvel. Com base nessa informação, sabemos onde é preciso atuar primeiro.
O que é o rendimento do robot?
É uma informação facultada pelo robot que informa sobre a produção que as vacas tiveram no último dia, o número de animais ordenhados, a média de produção que tiveram, o número de ordenhas por vaca, o fluxo do leite e as vacas que estiveram incompletas. Comparamos estes dados com os do dia anterior.
Depois do investimento no estábulo e no robot, que balanço fazem da saúde animal do efetivo?
Fazemos um balanço muito positivo. Passei a gastar muito menos dinheiro em medicamentos e com o veterinário. Basicamente, o veterinário só vem fazer o controlo reprodutivo. Também estamos a apostar na prevenção de doenças. Deixámos de ter outro tipo de problemas. Com o estábulo novo, atualmente, temos mais camas do que vacas. Além disso, a ordenha do robot não provoca o stress e a agitação de uma ordenha convencional.
O que alterou na abordagem ao melhoramento genético?
Continuo a preocupar-me da mesma forma com os parâmetros anteriores (fertilidade, patas…), mas agora tenho outras prioridades como a posição e o comprimento dos tetos e a velocidade de ordenha.
Porque têm uma data de primeiro parto tão elevada (26,3 meses)?
Neste momento está um pouco elevada, porque as novilhas foram inseminadas mais tarde para terem um bom tamanho e uma boa condição corporal. Mas o nosso objetivo é que, dentro de meio ano, essse número desça para 24 ou 24,5 meses, sendo a primeira inseminação feita aos 14 ou 15 meses.
Quando juntam as novilhas com as vacas?
Um mês antes do parto, as novilhas vêm da zona de recria para o estábulo das vacas em ordenha, e começam a comer o arraçoamento das vacas em produção.
Que indicadores utilizam para gerir o negócio?
A fertilidade. Se estiver boa, o futuro da vacaria poderá ser bom. Por isso, olho muito para a percentagem de vacas prenhes, o número de inseminações por vaca adulta gestante (o ideal seria entre 1,8 a 1,9), o intervalo entre partos (o ideal seria de 370 dias). Além disso, olhamos para o leite diariamente produzido.
Qual é a alimentação das vacas em produção?
O unifeed é distribuído uma vez por dia. É feito com silagem de milho, palha e mistura (5,5 kg por animal). No robot, é dada uma média de 8 kg de ração por animal, dependendo da produção leiteira. O perfil nutricional e a apresentação da ração são diferentes no robot e no unifeed.