Por João Santos
Proteínas
Lembram-se de ter falado no anterior OMP, de estarmos atentos à diminuição da colheita de soja no Brasil, no caso de a mesma ficar abaixo de 150 milhões de TM? Pois bem, o USDA no relatório de março mantém a colheita em 155, mas o seu equivalente brasileiro, a Conab, já a põe em 146. Apesar desta incerteza, temos o incremento previsto na Argentina, o que coloca a colheita Argentina+Brasileira em 199 milhões, um recorde. Este facto é o que tem continuado a empurrar os preços para baixo. Não de forma tão acentuada como anteriormente, mas a descer. A meados de março, vamos com 60% da colheita brasileira colhida, ou seja, na reta final, pelo que no início de abril já deveremos ter certezas sobre quem estava correto, o USDA ou a Conab. No entanto, temos, que ter alguma precaução, uma vez que se espera um final de março com muita chuva na Argentina, pelo que poderemos voltar a ter estragos nas colheitas, tal como aconteceu em 2014, ano em que se perdeu uma parte muito relevante da colheita. O governo argentino, tudo indica que está a conseguir estabilizar a inflação, à custa dos fortes ajustes que está a fazer. No entanto, num país que sempre teve as suas greves, nas circunstancias atuais não será de descartar que voltem e que criem disrupção na cadeia da soja.
Estamos à porta da sementeira nos States, e a perspetiva, atendendo à relação do preço do grão de soja e do milho, é que o agricultor americano dê preferência a semear mais área de soja. O biodiesel/HVO nos States continua a puxar pela procura de óleo. Todo o complexo de oleaginosas também está a suportar-se na redução de produção de palma, que parou a forte correção em baixa dos preços dos óleos vegetais.
Em relação à colza, espera-se uma colheita mais pequena na Europa este ano, motivo pelo qual o preço da colza se tem mantido estável. O diferencial de preço em Lisboa, entre a nova e a velha colheita é pequeno, com a velha colheita sobre os 290€/ton e a nova colheita sobre os 275€/ton. Em relação ao girassol, é esperado um incremento de produção, pelo que será prudente esperar para comprar, em particular, a nova colheita. Atualmente os preços da velha colheita estão sobre os 235€/ton.
Cereais
Após a forte correção a que temos assistido nos preços dos cereais, e a uma forte pressão dos agricultores europeus, fala-se que no contexto de incrementar as sanções à Rússia, sejam instaurados direitos de importação, tanto para os cereais como para as oleaginosas e os seus produtos, em 95€/ton. No que se refere ao nosso mercado, o maior impacto está nos trigos, cevadas, ervilhas, girassol e soja. Para quem consumiu o ano passado ervilhas forrageiras, estas eram maioritariamente de origem russa. Nos cereais, poderá ser o único fator ligeiramente altista. O USDA está a prever em alta a produção de milho e os stocks finais, e uma produção em linha com a do ano passado para o trigo. Com a chuva que tem caído no norte da Península, tudo indica que teremos muito trigo e cevada espanhóis para serem exportados. Os preços do milho nos portos nacionais estão sobre os 207€/ton. O segundo semestre está sobre os 212€, e o motivo principal prende-se com o facto de a Safra brasileira ter sido pequena (seca em outubro/novembro passado), que conduziu a uma colheita para esta campanha de menos 13 milhões de TM que o ano passado. Deste modo, quando chegarmos à Safrinha (junho), o Brasil terá pouco milho e, portanto, terá menos necessidade de exportar. Assim, hoje, atendendo ao preço das diferentes origens colocado nos nossos portos, não deveremos ter milho brasileiro todo o ano, mas sim ucraniano. Aqueles que gostam do milho bonitinho brasileiro, este ano, lamento, mas não o terão, O trigo e a cevada continuam a ser vendidos, nos nossos portos, com uns euros de diferença em relação ao milho.
Conclusão
No seguimento do preâmbulo, ainda teremos uns anos de bonança pelo lado da procura, mas a projeção atual de forte redução demográfica, terá um forte impacto no crescimento económico, no mercado de trabalho, nas migrações, nas pensões, nos sistemas de saúde, no mercado imobiliário e, como não, no mercado agrícola. É só imaginar que em vez de sermos 10 milhões de portugueses seremos 5 milhões, e com uma idade média bem superior à atual. Em relação à oferta no longo prazo, entre os avanços tecnológicos e a disponibilidade de terra arável, seguramente suportarão alimentar o aumento da população previsto e, se considerarmos que a população idosa consome menos calorias, mais difícil será a oferta encontrar a procura. No que toca ao curto prazo, pelo visto anteriormente, ainda temos espaço para uma redução nos preços dos cereais e oleaginosas, pelo que a prudência diz para manter as compras nos meses da frente e não fazer grandes coberturas a longo prazo (mais de 3/4 meses).