Por João Santos
Com base na informação atual, será prudente ir comprando só para os meses da frente, e esperar para ver onde o mercado nos leva.
PROTEÍNAS
O El Niño não está a defraudar, e está a ser simpático com a Argentina e o sul do Brasil. As chuvas do final de dezembro e janeiro na região centro norte do Brasil, retiram o espetro de um desastre. Ainda temos muitos meses até ter toda a soja ceifada na América ao Sul. E nada nos livra de que as chuvas em março inundem os campos e destruam uma parte relevante da colheita Argentina, como aconteceu há uns anos atrás. Falando ainda da Argentina, as eleições presidenciais passadas trouxeram uma vontade de mudança da política económica, que esperamos traga uma estabilidade ao pais e o ponha novamente na senda do crescimento económico. Não há país no mundo que nos últimos 80 anos tenha destruído mais PIB que a Argentina. No entanto, dada a gravidade da situação em que está, será um milagre que consiga controlar a inflação no curto prazo. Só assim os agricultores argentinos conseguirão, como a generalidade dos agricultores em todo o mundo, vender parte significativa das colheitas na altura da safra e aproveitar, ao longo do ano, os picos de mercado para complementar as suas vendas. Como sabemos, o agricultor argentino não tem este comportamento, uma vez que usa o seu stock de cereais como seguro contra a inflação, a desvalorização da moeda local face ao USD. Também no referente à soja, não nos podemos esquecer que a Argentina é o grande país exportador de farinha, uma vez que tem uma grande capacidade industrial para extrair soja. Ao confirmar-se esta colheita em cerca de 50 milhões de tm, perto do record de 55 milhões, teremos muita farinha argentina no mercado à procura de compradores. Há uma anedota no sector da soja que diz que as empresas que não operavam na Argentina (mas também as que aí também tinham ativos), apoiavam o partido Peronista — associado a mau governo e à causa da crise atual da Argentina — porque, assim, os agricultores venderiam a conta gotas, sendo depois mais fácil ganhar dinheiro em outras paragens. Sendo positivos, vamos todos desejar o melhor para o povo argentino e que, finalmente, consigam entrar no bom caminho com o novo presidente. Em Lisboa, temos hoje a soja nos 400€/tm para o 2º trimestre, valor similar ao de um ano atrás. A não ser que tenhamos alguma catástrofe nos próximos 2 meses em termos climáticos, é de crer que os preços continuarão a descer. Os leitores assíduos do OM já sabem que nada sei de taxa de câmbios, pelo que assumo o €/$ atual a 1,095 para o futuro. Do lado da procura, num mundo já pós-Covid, temos a China que estabilizou as suas importações de grão de soja nos 100 milhões de toneladas. Como a produção mundial está a crescer a um ritmo superior ao do consumo, espera-se que os stocks finais aumentem para 115 milhões de tm. Sem grandes novidades, continuamos em Lisboa com o preço da farinha de girassol nos 240€/tm e da farinha de colza nos 310€. Com a descida recente dos preços da soja, a competitividade da colza está a diminuir, sendo previsível que essa tendência continue.
CEREAIS
A muito boa colheita ucraniana, de mais de 30 milhões de TM desta campanha, veio pressionar os stocks mundiais. Pela primeira vez desde que o milho brasileiro foi autorizado a ser importado para a Europa, em 2015 (OGM MIR 162), temos o primeiro semestre do ano mais barato que o segundo semestre. Ou seja, o milho ucraniano é mais barato que a Safrinha brasileira, e mesmo para o segundo semestre não há muita diferença entre os dois. O facto de outubro e novembro terem sido muito secos na região centro do Brasil, atrasar a sementeira da Safra terá como consequência que a Safrinha não vá ser semeada na altura ideal. Por isso, espera-se uma Safrinha inferior à normal no Brasil. Adicionalmente, continuamos a ver a cevada e o trigo a preços muito semelhantes ao milho, tendo aquelas roubado mercado ao milho. Hoje, estes 3 cereais, para todo o ano, estão a ser oferecidos na faixa dos 215-225 €/mt nos portos nacionais.
CONCLUSÃO
No que se refere à compra de matérias primas, com base na informação atual, será prudente ir comprando só para os meses da frente, e esperar para onde o mercado nos leva. O tempo no Brasil pode trazer-nos surpresas, mas enquanto a produção da nova colheita ser superior a 150 milhões de tm para a soja, podemos estar tranquilos.