Os Índices VL e VL-Erva do semestre em análise indicam que os produtores de leite do continente e da Região Autónoma dos Açores estão a passar por uma situação muito difícil, com tendência para piorar durante o primeiro semestre do ano 2022 em que se prevêm aumentos dos preços da energia, dos combustíveis, dos adubos, das matérias-primas e de outros fatores de produção, fruto, fundamentalmente, do conflito armado entre a Rússia e a Ucrânia.
Analisamos neste número da Ruminantes os Índices VL e VL-ERVA para o período de novembro de 2021 a janeiro de 2022. De acordo com os dados do SIMA-GPP (2022), durante o trimestre em análise o preço médio do leite pago aos produtores individuais do continente variou entre 0,330 €/kg, em novembro, e 0,356 €/kg, em janeiro. Por sua vez, na Região Autónoma dos Açores o preço médio do leite pago aos produtores individuais variou entre 0,293 €/kg, em novembro, e 0,317 €/kg em janeiro.
De acordo com dados do MMO (2022), o preço médio do leite pago ao produtor no período de novembro de 2021 a janeiro de 2022 foi, mais uma vez, muito inferior em Portugal (0,3261 €/kg) quando comparado com a média da UE27 (0,4110 €/kg), uma diferença de 8,49 cêntimos/kg que, aplicada a Portugal, contribuiria para o sucesso económico dos produtores de leite. Em janeiro de 2022 Portugal foi, mais uma vez, o país da UE27 onde o kg de leite foi pago ao produtor ao preço mais baixo. Esta situação inaceitável, tem-se vindo a repetir nos últimos meses. É urgente inverter esta tendência.
Relativamente ao trimestre anterior, o preço médio das principais matérias-primas que entraram na formulação dos alimentos compostos utilizados neste trabalho sofreram um aumento que variou entre +3,8% no milho e +20,8% no bagaço de girassol. A evolução do preço das matérias-primas e dos alimentos forrageiros provocou um aumento de 6,5% no preço do alimento composto e de 4,1% no custo da alimentação da vaca leiteira tipo do continente. Na Região Autónoma dos Açores, o regime alimentar do trimestre em análise incluiu menor consumo de pastagem e maior consumo de alimento composto e de alimentos conservados. Este regime alimentar provocou um aumento de 15,9% no custo da alimentação da vaca tipo.
A evolução do preço do leite e dos custos da alimentação refletiu-se no Índice VL e no Índice VL – ERVA que em janeiro de 2022 foi, respetivamente, de 1,614 e de 1,596. De referir que um ano antes, em janeiro de 2021, o Índice VL havia sido de 1,529 e o Índice VL – ERVA de 1,509.
Um índice inferior a 1,5 (valor muito baixo) indica forte ameaça à rentabilidade da exploração leiteira; um índice entre 1,5 e 2,0 (valor moderado) indica que a produção de leite é um negócio viável; um índice maior do que 2,0 (valor elevado) indica que estamos perante uma situação muito favorável para o sucesso económico da exploração (Schröer-Merker et al., 2012). Durante o trimestre em análise, o Índice VL atingiu o valor mínimo de 1,520 em dezembro de 2021 e o Índice VL-Erva o valor mínimo de 1,515 em novembro de 2021. Com valores muito próximos de 1,5 durante o semestre em análise, os Índices VL e VL-Erva indicam que os produtores de leite do continente e da Região Autónoma dos Açores estão a passar por uma situação muito difícil, com tendência para piorar durante o primeiro semestre do ano 2022 em que se prevêm aumentos dos preços da energia, dos combustíveis, dos adubos, das matérias-primas e de outros fatores de produção, fruto, fundamentalmente, do conflito armado entre a Rússia e a Ucrânia.
De realçar que o Índice VL-ERVA reflete a realidade da produção de leite muito mais focada na ilha de S. Miguel que produz cerca de 60% do total de leite dos Açores. Nas outras ilhas do Arquipélago a conjuntura é bastante mais desfavorável.
NOTAS
– em janeiro de 2022, o preço do leite pago aos produtores do continente foi superior em 4,1 cêntimos/kg relativamente ao preço pago em janeiro de 2021. Nos Açores, o valor pago por kg de leite também foi superior em 3,5 cêntimos/kg relativamente ao preço pago em janeiro de 2020;
– durante o trimestre em análise, no continente houve um aumento de 4,1% nos custos com a alimentação da vaca tipo. Nos Açores os custos com a alimentação da vaca tipo dispararam 15,9%;
– não se verificaram diferenças representativas nos custos dos alimentos forrageiros utilizados na formulação do regime alimentar das vacas tipo;
– as considerações anteriores refletem-se no Índice VL e no Índice VL – ERVA que em janeiro de 2022 foram, respetivamente, de 1,614 e 1,596.