A mastite em vacas leiteiras evoluiu muito nos últimos anos, não apenas em termos de tipos e classificação, mas também em relação à prevalência dos principais agentes causadores. Portanto, novas estratégias precisam ser aplicadas para controlar a mastite bovina nas nossas vacarias. Neste artigo far-se-á uma compilação das últimas tendências no controlo da mastite bovina com especial destaque para a vacinação.
A mudança na epidemiologia, de agentes contagiosos para agentes ambientais
Nos últimos 50 anos, a implementação dos planos de saúde do úbere para o controlo da mastite, bem como o aumento da produção de leite, levaram a uma mudança na epidemiologia das mastites, de um tipo de mastite tipicamente contagiosa (transmitida de vaca para vaca), por exemplo, causada por Strep. agalactiae e S. aureus, para um tipo de mastite de origem ambiental (transmitida através do meio ambiente), originadas por Strep. uberis, E. coli e coliformes. Observamos essa tendência em países pioneiros no estabelecimento de planos de controlo de mastites na Europa como o Reino Unido e verificamos nos últimos anos essa mesma tendência em Portugal.
Gráfico 1 – Evolução da prevalência dos principais agentes causadores de mastites em Portugal de 2012 a 2016 utilizando o kit UDDERCHECK®.
Analisando esses dados, podemos concluir que os planos de controlo da mastite tiveram um tremendo impacto na mastite contagiosa, mas não sobre a mastite ambiental. Nas últimas décadas foram realizadas melhorias significativas na saúde do úbere a nível mundial através da aplicação do plano dos 5 pontos baseado no controlo dos agentes contagiosos (desinfeção dos tetos após a ordenha, tratamento dos casos de mastites clínicas, aplicação de terapia de secagem, refugar casos crónicos e manutenção adequada da máquina de ordenha). Estas medidas têm um efeito reduzido no impacto da saúde do úbere derivado de agentes patogénicos ambientais como a E. coli, Klebesiella spp., coliformes e Strep. uberis, que são as bactérias mais comummente identificadas em casos de mastites clínicas. Atualmente, para o controlo das mastites já falamos do plano dos 7 pontos. Este novo plano envolveu o desenvolvimento dos 5 pontos clássicos já mencionados, adaptando-o às novas demandas e incorporando avanços técnicos e novas descobertas, especialmente no campo da prevenção, no qual o melhoramento da imunidade da vaca leiteira através da vacinação é um fator-chave.
FOTO 1 – Plano dos 7 pontos para a prevenção de mastites em vacas leiteiras (Hemling T.C., 2019).
As medidas mais inovadoras deste plano são:
- Terapia seletiva de secagem.
- Novos protocolos de tratamento de mastites em lactação baseados na identificação do agente causador da mastite.
- Utilização de selantes dos tetos durante o período seco.
- Utilização de vacinas de mastites para melhorar a imunidade da vaca.
Porque a vacinação contra as mastites bovinas é tão importante?
Foram desenvolvidas várias vacinas que originam uma resposta específica aos patógenos mais comuns que atualmente causam as maiores perdas como resultado da mastite.
Com a vacinação, altas concentrações de anticorpos são obtidas no úbere, sendo estas as células de defesa especializadas no combate à invasão da glândula mamária por bactérias como E. coli e outros coliformes, Strep. Uberis e S. aureus. Além disso, os anticorpos gerados pela vacinação, podem também ter um papel importante na neutralização das toxinas e evitar a cronicidade das mastites.
Faz este ano 11 anos que a HIPRA lançou a primeira vacina na Europa contra mastites de origem contagiosa e ambiental (S. aureus, SCN, E. coli e coliformes). Foi demonstrado, por exemplo, que a vacinação contra a mastite clínica causada pela E. coli e outros coliformes, origina uma redução no número de casos clínicos, e acima de tudo, uma redução considerável da severidade dos mesmos, sendo os casos moderados e graves muito pouco frequentes em explorações vacinadas. Num estudo de campo realizado no Reino Unido, verificou-se um retorno económico de 2.6€ por cada euro investido na vacina (Bradley A., 2015).
FOTO 2 – Principais benefícios no uso de vacinas para prevenir mastites clínicas causadas por E. coli e coliformes.
No caso da Strep. uberis, recentemente a HIPRA desenvolveu uma nova vacina, que quando utilizada em explorações com alta incidência de mastites clínicas causadas por esta bactéria, reduz pela metade o número de casos clínicos, melhora a eficácia dos tratamentos aplicados refletindo-se numa redução de mais de 50% no uso de antibióticos, e também reduz as perdas de produção leiteira (mais 3.1L/vaca/dia).
Conclusões
A mastite bovina continua a ser uma das principais doenças que afetam as explorações leiteiras, mas a sua origem, as bactérias que a causam e os problemas observados mudaram com a profissionalização do setor, verificando-se um aumento da incidência de mastites clínicas causadas por agentes ambientais.
Da mesma forma, as estratégias para combater as mastites estão em constante evolução para se adaptar a essa nova situação, na qual o uso de antibióticos é limitado e o foco está na implementação de medidas preventivas e no uso de vacinas inovadoras para aumentar a capacidade da vaca de se defender contra infecções.
NOTA: Para obter informações adicionais sobre os programas de saúde do úbere e vacinação contra as mastites deverá consultar o médico veterinário da exploração.
Para mais informação sobre este assunto, contacte:
Deolinda Silva
Tel. (351) 915052335