Novas estratégias de prevenção
Por: Deolinda Silva; Diretora Serviços Técnicos Ruminantes – HIPRA Portugal
O papel do BRSV nas pneumonias em vitelas leiteiras
O BRSV é um dos principais vírus envolvidos na doença respiratória bovina, se não o mais importante, sendo os outros agentes os vírus BVD, IBR, PI3 e Coronavírus, e as bactérias Mannheimia haemolytica, Histophilus somni, Pasteurella multocida e Mycoplasma bovis.
A distribuição do BRSV é mundial, causando frequentemente surtos de pneumonias durante o Inverno e ocasionalmente no Verão, estando envolvido em 60% dos casos de pneumonia em vitelas leiteiras. A incidência do BRSV está fortemente associada à densidade animal e idade, sendo frequente a circulação deste vírus na população bovina. A infeção por BRSV está associada a uma alta morbilidade de até 80% e a mortalidade que pode chegar a 20% em alguns surtos (Sarmiento-Silva 2012). A infeção entre animais ocorre por via aérea (inalação de aerossóis).
Casos clínicos severos são mais frequentes em animais com menos de 6 meses, mas a infeção por este vírus pode ocorrer em qualquer faixa etária principalmente quando o BRSV entra pela primeira vez na exploração.
Os sintomas podem ser graves, variando desde mortes súbitas até depressão, temperatura, respiração pela boca, extensão da cabeça, formação de espuma na boca e esforço respiratório intenso. Os casos afetados com menor gravidade podem apresentar temperatura, dificuldade em respirar, descargas dos olhos e nariz.
O BRSV ataca o revestimento das vias respiratórias causando danos que aumentam a oportunidade de infeção bacteriana secundária. Os animais que sobrevivem podem permanecer com danos crónicos a longo prazo nos pulmões. É bem reconhecido que, à medida que a gravidade e o número de casos repetidos num animal aumenta, o grau de danos nos pulmões e a taxa de mortalidade também aumentam.
Períodos de risco para as pneumonias causadas pelo BRSV
Existem dois principais períodos de risco para as pneumonias causadas pelo virus sincicial respiratório bovino:
- Fase inicial da vida porque a imunidade dos vitelos não é a adequada para combater este vírus. Para combater o BRSV é necessário imunidade local (vias respiratórias superiores) que o impeçam de atingir os pulmões. Em idade precoce a imunidade do colostro das mães pode fornecer algum grau de proteção. No entanto, apenas uma pequena proporção da proteção fornecida pelo colostro sai da corrente sanguínea para proteger o revestimento das vias respiratórias. Estes anticorpos específicos estão apenas presentes durante um curto período. Assim, embora as amostras de sangue dos vitelos possam demonstrar uma proteção adequada na corrente sanguínea efetiva, a proteção local mais importante no revestimento das vias respiratórias, que é mais difícil de avaliar, diminui rapidamente.
- Períodos de stress que ocorrem no dia a dia de uma exploração como o desmame, agrupamento de animais e contactos de risco com animais portadores do BRSV que não apresentam sintomas da doença (ex. animais adultos).
Como podemos prevenir as pneumonias causadas por este vírus?
Existem 2 ferramentas para prevenir a doença respiratória causada pelo BRSV: o maneio e a vacinação. Um bom maneio permite-nos controlar os fatores de risco de DRB relacionados com o animal, ambiente, maneio e nutrição. No entanto, também se sabe que no caso do BRSV, na ausência de um plano de vacinal adequado, mesmo que se trate de uma exploração com os fatores de risco acima referidos controlados, podem ocorrer surtos de pneumonias causados pelo BRSV que originam mortalidades elevadas. E este facto é crucial em relação ao BRSV, é que independentemente do maneio, se não temos uma imunidade geral adequada, os problemas irão ocorrer.
Quais são as estratégias atuais para vacinação contra o BRSV?
Estão disponíveis no mercado diversas vacinas para controlo e prevenção do BRSV. Estas vacinas podem ser administradas por via intranasal para estimular a imunidade local e rápida ou sistémica (via intramuscular ou subcutânea), em diferentes idades.
A proteção dos vitelos jovens, com menos de 12 semanas, através da vacinação sistémica é sempre um desafio, devido à interferência da imunidade colostral (anticorpos maternais em circulação). As vacinas intranasais ultrapassam esta questão e têm sido uma resposta a esta questão.
Vacinação intranasal seguida de reforço intramuscular
O conceito de expor o sistema imunitário a diferentes partes dos vírus e por diferentes vias (abordagem heteróloga sensibilização-reforço) irá alcançar uma resposta imunitária mais equilibrada, mais potente e mais duradoura.
A aplicação inicial da vacina “pelo nariz” em idade precoce origina duas respostas importantes. Primeiro, proporciona uma imunidade/proteção local no revestimento das vias respiratórias em vitelos muito jovens, desde a primeira semana de vida, independentemente da imunidade colostral. Depois, esta primeira dose por via intranasal funciona como preparação para a segunda dose, que pode ser administrada por via intramuscular mais tarde. Esta segunda dose vem reforçar a proteção oferece uma maior duração da imunidade.
Existe uma enorme variação da eficácia e duração da imunidade das diferentes vacinas e vias de administração. É essencial seguir as recomendações dos fabricantes relativamente ao intervalo entre doses, via de administração e idade dos animais a vacinar.
Conclusões
O BRSV é uma causa importante de doença respiratória e é comum nas explorações leiteiras sendo os animais jovens os mais afetados. O BRSV é disseminado pelo ar e infeta as vias respiratórias superiores e os pulmões e a imunidade dos animais em idade precoce contra este vírus não é a adequada. A imunidade local das vias respiratórias (superiores e inferiores) é essencial para a proteção contra este vírus. A resposta imunitária às vacinas convencionais para o BRSV (via intramuscular) pode ser afetada pela anticorpos maternais. As vacinas intranasais aportam três principais vantagens na vacinação contra BRSV: em primeiro lugar induzem a imunidade local “no nariz” (mucosa nasal) essencial para o BRSV, em segundo lugar não são afetadas pelos anticorpos maternais, e em terceiro lugar estimulam a memória do sistema imune para um posterior reforço da vacinação. Este reforço posterior da vacina por via intramuscular, quando a imunidade de origem materna tiver diminuído, vai reforçar a imunidade local e sistémica proporcionando uma duração da imunidade protetora.
A estratégia combinada de vacinação intranasal seguida de revacinação por via intramuscular é a tecnologia de ponta nas vacinas respiratórias para o BRSV, sendo uma ferramenta importante para a proteção contra as pneumonias e contra este vírus.
A HIPRA como empresa de referência na prevenção na saúde animal, lançou em 2019 a primeira e única vacina viva contra o BRSV que pode ser administrada por via intranasal e intramuscular, que em combinação com a sua vacina contra as Pasteurelas (Mannheimia haemolytica e Histophilus somni), constitui uma proposta completa e flexível para a prevenção da doença respiratória na recria leiteira desde idade precoce e com longa duração de proteção, que pode ser adaptada às necessidades de cada exploração leiteira.
NOTA: Para obter informações adicionais sobre programas de prevenção e vacinação contra a doença respiratória deverá consultar o médico veterinário da exploração.
Dada à extensa bibliografia utilizada para a redação deste artigo, as referências não foram incluídas no texto. Caso o leitor pretenda obter informação suplementar, pode realizar a sua consulta à autora através do seguinte endereço de email deolinda.silva@hipra.com .
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Deolinda Silva
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